Quarto do Alec

Foi impossível não me rir com a pergunta dela. Era giro ver o mundo a evoluir, mas também não era a coisa que mais tinhamos em atenção quando vivemos demasiado tempo - sabes, a principal coisa que eu gostei neste tempo todo foi de quando descobriram os genes, eu ofereci-me para ser cobaia, mas acho que não gostaram muito de mim - encolhi os ombros com um sorriso que logo desapareceu quando ela me disse que já não era tão giro quando se perdia alguém que não era como eu - eu nunca perdi ninguém que não fosse como eu.

Ri-me com o que ele disse e sentei-me no parapeito da janela enquanto o olhava - Tens tantos anos que já deves ter visto montes de coisas. - passei o meu dedo pelo vidro da janela e desenhei um coração no mesmo - As aulas que dás de história, podias estar a ler o teu diário. - olhei para ele quando me voltou a falar e assenti com a cabeça - Desculpa, foi uma coisa que me saiu assim da boca para fora.

-Ainda não vi tudo - disse sentando-me na cama vendo o seu coração na janela que estava um bocado suja. Nunca me apetecia fazer limpezas e não tinha empregadas porque os meus irmãos tinham medo que ela acabasse como as antigas que eu já tinha tido. Ri-me da comparação do diário - então não queiras ler nenhum diário meu. - encolhi os ombros quando me pediu desculpa - mas já perdi pessoas como eu.

Ri-me com o que o Alec disse e encolhi os ombros - Por acaso até queria, vais achar-me uma seca mas ter passado tantos anos fechada e escondida fez-me interessar bastante por história, desenho e essas coisas. - deixei-me estar sentada no parapeito da janela mas virei-me de frente para ele para o conseguir olhar - Por isso se me desses os teus diários ia ser tipo a melhor prenda de natal de sempre. - disse-lhe com um meio sorriso que desapareceu logo - Foram mortos? - perguntei baixinho.

-Eu gosto de desenhar - também tinha passado vários anos fechado, apesar de ser por vontade própria, e tinha começado a desenhar. - Por isso parece que temos mais coisas em comum do que o que tu pensas - sorri. - Eu não vou dar-te os meus diários - disse - é pessoal. - virei-me para a janela e abri-a para ir até à varanda que era de frente para a entrada e dava para ver todo o jardim. - Sim, mataram-na. Humanos e bruxas e lobisomens, todos.

Sorri quando o ouvi dizer que gostava de desenhar e assenti com a cabeça mal ele disse que tínhamos algumas coisas em comum - Eu nunca disse que não. - disse-lhe em resposta, encolhendo os ombros de seguida. Mordi o lábio para tentar não me rir quando o Alec disse que não me ia dar os diários dele - Pronto, não se perde nada por perguntar. - mordi o lábio inferior por o ouvir dizer "mataram-na" e decidi que era melhor não falar mais nesse assunto - Então tens de me contar mais histórias do teu passado. Sem o lado muito pessoal.

Fiz um ar pensativo e virei-me para Jo de braços cruzados e uma mão no queixo - como é que queres que eu conte alguma coisa do meu passado sem que seja pessoal? - perguntei encostando-me ao muro da varanda -Eu acho que contar que fui acorrentado e torturado na idade média porque pensavam que eu era a reencarnação do demónio é pessoal - comentei - Se calhar devias só perguntar, eu não levo a mal - sorri e encolhi os ombros - pelo menos a ti não.

Olhei para ele com atenção depois de contar aquilo e apesar de me querer rir, consegui controlar-me. Aquilo era mesmo interessante, saber coisas sobre a vida dele depois de ele já ter vivido tantos anos. E eu interessava-me bastante nestas coisas - Eu não sei que perguntas é que te posso fazer. - disse com um encolher de ombros enquanto o olhava. Mordi o lábio inferior enquanto pensava no que lhe perguntar e que não fosse demasiado estranho - Alguma vez te apaixonaste? - perguntei sabendo que aquilo era exatamente o contrário de uma coisa não estranha e não pessoal.

-Força podes rir - sorri quando vi o seu ar, aquele ar em que se via que ela estava mesmo a querer rir. - Desistiram de me chamar reencarnação do diabo para me chamar drácula - fiz um ar mais presunçoso e fiquei a olha-la encolhendo os ombros quando me disse que não sabia o que perguntar. Eu tinha tantas coisas que nem sabia o que dizer ou por onde começar. Fiquei mais sério com a pergunta dela e não lhe respondi logo, fiquei durante uns segundos a olha-la sem dizer nada - Já, uma.

Ri-me com o que ele disse a seguir, sobre lhe chamar drácula e assenti com a cabeça - Deves ter adorado toda essa atenção. - calei-me mal vi o ar sério e pensativo dele por causa da minha pergunta e mordi o interior da bochecha. Era uma burra, só fazia perguntas estúpidas. Ia-lhe pedir desculpa por ter sido uma idiota quando ele me respondeu. Estava curiosa como era óbvio mas não o queria chatear nem me intrometer onde não devia - Lamento. - disse sinceramente assim que baixei o olhar.

Oh sim, se tinha adorado. Sempre tinha gostado de atenção, agora nem tanto, o tempo e as novas tecnologias chateavam-me e havia cada vez mais gente maluca, ainda se me conseguiam apanhar e se metiam a injetar-me coisa para me testar, em vez de me torturar. Levantei as sobrancelhas quando ela disse que lamentava - Lamentas que eu me tenha apaixonado? - perguntei com um sorriso brincalhão.

Levantei novamente o olhar para ele quando o ouvi falar e abanei a cabeça em resposta - Não, lamento que ela tenha morrido. - disse relembrando a conversa que tínhamos tido antes, quando ele tinha dito que tinha perdido algumas pessoas, de certeza que se estava a referir à rapariga por quem se tinha apaixonado. Saltei do parapeito da janela e caminhei até à cama, voltando-me a sentar na mesma - Eu também perdi os meus pais mas eu não cheguei a conhecê-los. - encolhi os ombros - Eles foram mortos por vampiros no dia em que eu nasci.

Virei-me para ela enquanto andava de novo até à cama e encolhi os ombros como se não me interesse, dois mil anos depois não devia interessar, mas ainda interessava, e muito. Voltei a virar-me para a janela e abri a mesma - pelo menos isso não foi culpa minha - foi a primeira coisa que disse e depois lembrei-me que isso se calhar não era muito bom de se dizer. Olhei para ela - Lamento. - virei-me para ela - eles foram apanhados?

Não sabia o que dizer em relação à pessoa que ele tinha perdido por isso limitei-me a ficar calada e só levantei o olhar na direção do Alec quando o ouvi perguntar em relação aos meus pais - Não. - respondi-lhe com um encolher de ombros - A melhor amiga da minha mãe, a Sophia, agarrou em mim que tinha acabado de nascer e num baú que tem passado de geração em geração e tirou-me de lá. - deitei-me na cama e ajeitei o vestido que ainda tinha vestido - Acho que ela nem chegou a ver a cara deles. E pronto, foi desse baú que saiu o meu livro de sombras, este vestido, e tudo o que tem passado para todas as Harvelle's.

Mordi o interior da bochecha quando ela falou de um baú e tentei não fazer nenhuma expressão facial que me fizesse parecer que sabia do que ela estava a fazer. Voltei ao assunto anterior, ao assunto dos vampiros não comentando nada sobre o baú - queres encontra-los? - perguntei - eu tenho uma maneira de os encontrar - disse com um sorriso divertido.

Sentei-me na cama quando ouvi a pergunta do Alec e semicerrei os olhos enquanto pensava na resposta - Hm, não sei. - encolhi os ombros enquanto mordia o lábio inferior, um tique nervoso que tinha - Pode ser estranho mas nunca pensei muito nisso. Nunca cheguei a conhecer os meus pais por isso.. não sinto nenhuma ligação. - encolhi ligeiramente os ombros e olhei para o chão - E ninguém fala neles. A única coisa que sei é sobre a minha mãe e é que ela foi considerada uma heroína porque pronto, me deu à luz.

Encolhi os ombros com o que ela disse, se não valia a pena, não valia a pena - está bem, se mudares de ideia um dia podes dizer-me - comentei e voltei a virar-me para a janela vendo que os meus irmãos estavam a chegar, mas nem era preciso ver porque eles faziam uma barulheira que até dali um humano os conseguia ouvir. - Eu espero que gostes dos meus irmãos - disse virando-me para a porta e vi Ali entrar no quarto
-Oh desculpem! - fingiu que não tinha reparado em Jo fazendo-me revirar os olhos -Eu não acredito que aproveitaste a festa para trazeres a miúda a conhecer o teu quarto - disse toda marota.

- Obrigada. - agredeci com um pequeno sorriso e juntei as sobrancelhas ao ouvir o Alec falar dos irmãos, levantando-me da cama de seguida. Olhei para a porta com um pequeno salto ao ouvir uma das irmãs dele falar apesar de já estar mais ou menos à espera e abanei a cabeça - Eu não estou a conhecer o quarto dele. - juntei as sobrancelhas enquanto apontava para o Alec mas deixei a mão cair - Eu.. é melhor ir para casa. - disse enquanto ajeitava o meu vestido.

Revirei por causa de Lia ser uma desbocada e só dizer porcaria - Lia cala-te, vai preparar o jantar - olhei para Jo quando disse que era melhor ir para casa - não Jo - olhei-a - deixa a minha irmã falar, ela não sabe o que diz. Lia sorriu-me forçadamente e olhei para ela.
-Sim, eu não sei nada do que digo - disse ela dando meia volta e indo embora. Abanei a cabeça e fui ter com ela.
-Mas podes ir se quiseres.

Fiquei a olhar de um para o outro enquanto eles falavam e senti que havia ali alguma coisa que era suposto eu perceber, mas não conseguia chegar lá. Voltei a olhar para o Alec quando o ouvi dizer-me que eu podia ir embora se quisesse e encolhi os ombros - Eu sei que devia ir, elas vão morrer de preocupação. Mas por outro lado não me apetece ouvir todas as perguntas e ouvi-las dizer que o melhor é voltar a ficar fechada na torre o resto da minha vida. - suspirei e olhei-o - Posso ficar cá? Só esta noite e prometo que me porto bem.

Comecei a sorrir mais com o rumo da sua conversa e assenti positivamente com a cabeça - podes - disse - e se queres comer alguma coisa é melhor dizeres, os meus irmãos comem que nem animais - olhei-a, na verdade eles eram animais, quando era apenas um lobisomem também comia muito, agora comia o dobro, porque tanto comia comida humana como sangue, apesar de que só o sangue é que me saciava parcialmente.

Sorri quando o Alec disse que eu podia ficar - Obrigada. - agradeci e abanei a cabeça logo de seguida ao ouvi-lo - Eu fiquei bem com os cereais, obrigada. - tirei a coroa de flores que tinha na cabeça e pousei a mesma na pontinha da cama dele, ajeitando o meu cabelo de seguida, deixando as trancinhas que tinha - É melhor mostrares-me o quarto onde vou ficar. - disse-lhe apontando para a porta - Não te quero incomodar mais.

-Ficaste bem com os cereais? - perguntei - o que é que te dão naquela casa? - perguntei - uma dose de vegetais por dia? - fiz uma careta mas logo encolhi os ombros começando a ir à frente dela, para que ela me seguisse - é aqui - apontei para a porta à frente do meu quarto - Não precisas de ir já, não me estás a incomodar, estás a manter-me ocupado.

Soltei uma gargalhada ao ouvir a pergunta do Alec e abanei a cabeça - Eu não como muito. - expliquei com um meio sorriso. Ele tinha aquele ar de mau mas conseguia ser querido e divertido. O que era estranho. Mas ainda mais estranha era a maneira como ele olhava para mim, ele e toda a sua família - Está bem, eu posso ficar. - encolhi os ombros e olhei-o - Mas temos de fazer alguma coisa se não adormeço em pé. - disse-lhe com um sorriso nos lábios.

Não sorri quando ela disse que podia ficar ali, mas sorri sim interiormente deixando a porta do meu quarto encostada e indo sentar-me em cima da cama - não precisas de adormecer em pé, podes sentar-te - disse esperando que ela o fizesse - e também podes mostrar-me os teus poderes - disse agora sim com um sorriso, mas um sorriso daqueles divertidos que eu fazia. - Não me julgues só sou curioso.